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“... a péssima situação financeira da Petrobrás prejudica a economia, em especial os setores de óleo e gás e construção. Mas não foi a Lava Jato que criou os problemas na empresa; estes foram causados pela corrupção, pela má gestão e por políticas absurdas, como congelar o preço da gasolina. Como a propaganda de 2014, essas narrativas também são falsas. Mas elas são fáceis de assimilar e, repetidas à exaustão, se tornarão críveis para muitas pessoas, dificultando ainda mais a superação da crise. Quanto mais cedo forem desconstruídas, melhor para o país.” Armando Castelar, “A narrativa pós-impeachment”, jornal “O Correio Braziliense” de 30 de março de 2016, página 15.
Políticos dos partidos que apoiam o governo federal participam de uma campanha bem orquestrada de convencimento das pessoas: uso do que se conhece sobre relações de equivalência para construir uma narrativa que lhes é favorável. O autor do artigo cita o livro de Daniel Kahneman (psicólogo que ganhou o Prêmio Nobel de Economia). ”Rápido e devagar - duas formas de pensar”, mas poderia citar centenas de outras obras que mostram os procedimentos para que se estabeleçam rapidamente a equivalência entre estímulos (verbais ou não).
Armando Castelar cita o caso do discurso petista contra a independência do Banco Central: a repetição da mensagem “O Banco Central causa fome”, baseada em duas “verdades” já aceitas pelo povo – os bancos são maus e os pobres correm o risco de passar fome. ( http://bit.ly/1RKHDg9 )
A nova verdade é de difícil desconstrução, especialmente quando grande parte do eleitorado é formada de analfabetos funcionais. Imaginem o tempo e o esforço requeridos para explicar a cada cidadão atingido pela propaganda que o Banco Central não é banco comercial, que o presidente do banco é escolhido pelo governo, aprovado pelo congresso, e que países com Banco Central independente tem inflação baixa (e como inflação baixa é tão mais importante quanto mais pobre você é).
Esse mesmo procedimento de construção de narrativa é o que está sendo usado para manter a militância motivada e pronta a brigar nas ruas. “Impeachment sem crime é golpe”. A presidente não está sendo processada, logo não há crime. Se não há crime, não há razão para pedir a instauração do processo de impeachment. De novo, imaginem o tempo e o esforço para explicar o que é impeachment, a diferença entre crime de responsabilidade e crime comum, a independência entre os três poderes, e a lei de responsabilidade fiscal, por exemplo.
Referências:
Kahneman, Daniel. Rápido e devagar: duas formas de pensar. Editora Objetiva, 2012.
de Rose, Júlio C. "Classes de estímulos: implicações para uma análise comportamental da cognição." Psicologia: teoria e pesquisa 9.2 (2012): 283-303.
Hübner, Maria Martha Costa. "Controle de estímulos e relações de equivalência." Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva 8.1 (2006): 95-102.
Fonte: blog do Todorov