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Resumo: este artigo apresenta uma visão analítico-comportamental sugerindo que fatores biológicos, tanto genéticos quanto de outra origem, tem pouco a ver com nossa preferência pela estimulação sexual vinda do mesmo gênero ou do gênero oposto. Essa visão enfatiza a importância da história comportamental e das atuais contingências na compreensão das causas dos valores e comportamentos de um indivíduo. Essa visão afirma que a genética e outros fatores biológicos são cruciais na determinação dos processos comportamentais que interagem com nosso histórico comportamental e as contingências atuais; no entanto, os fatores biológicos tem pouco efeito direto nas diferenças entre os seres humanos em seus comportamentos e valores. Além disso, essa visão analítico-comportamental sugere que as formas particulares de comportamento são arbitrárias; seja qual for o comportamento humano pelo qual estamos interessados, as contingências de reforçamento e de punição determinam essas formas particulares.
Palavras-chave: análise do comportamento; sexo; transexual; homossexual; heterossexual.
Keller e Schoenfeld (1950, pp. 294-303) talvez tenham sido os primeiros analistas do comportamento a abordar a questão geral de “como as atividades sexuais refletem os princípios comportamentais”. O presente artigo continua a tentativa de responder essa questão. A orientação sexual (papel sexual, estilo de comportamento e valores sexuais) é uma questão importante por si mesma, mas a orientação sexual também é importante enquanto um problema modelo e nossa análise sobre a orientação sexual pode servir como um modelo de análise que talvez se aplique em muitas outras questões, tais como a natureza dos papéis sexuais de forma mais abrangente, “inteligência”, “personalidade”, “doenças mentais”, crime e pobreza. Em outras palavras, uma análise da orientação sexual também nos permite ilustrar uma visão comportamental de mundo, ainda que sem dúvidas não seja a única visão comportamental de mundo possível.
Geralmente as pessoas falam sobre ser heterossexual, gay, lésbica, transexual ou bissexual, mas talvez estejam fazendo uma afirmação um tanto quanto imprecisa. Ao invés disso, talvez devêssemos analisar os papéis sexuais em ao menos dois componentes – estilo de comportamento sexual e valores sexuais (condições reforçadoras e punitivas). Esse artigo analisa esses dois componentes separadamente, a fim de abordar o papel do inato e do adquirido na determinação das diferenças individuais da orientação sexual: (a) papel sexual e estilo comportamental, e (b) valores sexuais.
O estilo do comportamento sexual é aprendido ou herdado?
Geralmente, na Análise do Comportamento, achamos útil considerar como arbitrárias as formas particulares de comportamento que produzem uma consequência comportamental (isto é, as condições reforçadoras ou aversivas), apesar de que alguns prefiram moderar essa visão (Honig & Staddon, 1977). Em qualquer evento, analistas do comportamento não têm interesse particular no comportamento de pressionar alavancas, puxar correntes, empurrar pedais ou bicar botões-chave, por si só. Em vez disso, analistas do comportamento usam essas formas comuns de comportamento simplesmente como convenientes e representativas amostras do comportamento em geral. A visão subjacente a essa análise é de que a contingência e as consequências do comportamento é que são inerentemente importantes, não a forma do comportamento. Um dos melhores exemplos da arbitrariedade do comportamento é o fenômeno do imprinting ou “estampagem”. No ambiente natural, o pássaro consegue a “estampagem” reforçadora (uma visão maior, melhor ou mais clara de sua mãe) ao emitir a resposta de se aproximar de sua mãe. Mas demonstrações laboratoriais mostram que qualquer resposta emitida servirá, desde que produza uma visão mais próxima do reforçador estampado. O pássaro irá bicar um botão-chave, desde que essa bicada proporcione o reforço (uma visão mais próxima). Em um incrível experimento, usando um aparelho especialmente planejado, um pássaro tinha que se afastar do reforçador estampado para que pudesse se aproximar dele. (Peterson, 1960). Como resultado, o pássaro aprendeu a se afastar, ao invés de aprender a resposta mais natural e mais tipicamente aprendida de andar em direção da mãe.
Talvez os papéis sexuais e os estilos comportamentais sexuais sejam tão arbitrários quanto o comportamento que produz o reforçador estampado. Em outras palavras, o papel sexual e o estilo de comportamento sexual que é aprendido é uma função do reforçamento desses comportamentos. No que diz respeito aos comportamentos de papel de gênero, Barlow, Reynalds e Agras (1973) demonstraram que um homem transexual pode aprender a se sentar, andar e falar da maneira tradicionalmente masculina ao invés da maneira tradicionalmente feminina que ele havia aprendido anteriormente. Assim como os analistas do comportamento ensinaram ao rapaz comportamentos tradicionalmente masculinos, sua mãe o ensinou, em tenra idade, comportamentos tradicionalmente femininos, ainda que não intencionalmente; nós produzimos o que reforçamos, queiramos ou não.
Outras observações ainda sugerem o estilo comportamental do papel sexual como sendo arbitrário, aprendido e dependente das contingências de reforço ou punição. Muitas pessoas que se consideram gays ou lésbicas se comportam de uma maneira típica do seu sexo, ao invés de se comportar como o sexo oposto. No entanto, outras pessoas variam entre um estilo comportamental “feminino” e “masculino” dependendo das contingências de reforço e punição que estejam operando no momento. Assim, contrário ao senso comum, pode haver muito pouca relação entre ser naturalmente do sexo masculino ou feminino que determine nosso estilo de papel sexual.
No entanto, a maioria de nós consideraria impossível mudar nosso estilo de “feminino” para “masculino” ou vice-versa. E por causa dessa dificuldade, nós talvez erroneamente consideremos que nosso estilo é inato. Mas a maioria de nós também acharia impossível falar espanhol sem soar como um estrangeiro. E ainda, apesar dessa dificuldade, nós não assumiríamos que nosso sotaque estrangeiro é inato; ao invés disso, nós só o aprendemos tão bem quando éramos crianças que não conseguimos nos livrar dele. O mesmo serve para nosso estilo de papel sexual.
O valor do reforçamento ou da punição de diferentes estímulos sexuais e as fontes destes estímulos são aprendidas ou inatas?
E quanto à direta estimulação física das áreas erógenas? A própria estimulação física é provavelmente um reforço natural. E quanto à fonte da estimulação – seja um homem, uma mulher ou um objeto inanimado?
Bem, no escuro, todos os gatos são cinza. Se não sabemos, não tem como importar. No entanto, quando há luz, quando nós sabemos, isso é crucial. A fonte da estimulação sexual, seja pela pessoa errada, pela pessoa do sexo errado ou por umobjeto repulsivo, talvez tenha um componente tão aversivo que isso supere o componente reforçador da própria estimulação.
E quanto a essa aversão à estimulação sexual associada a determinado estímulo visual? Certamente essa aversão condicional é aprendida. Considere esse experimento de pensamento: suponha que todas as vezes que formos sexualmente estimulados na presença de uma luz vermelha, levemos um choque e suponha que a estimulação sexual na presença de uma luz verde não é emparelhada com choque nenhum. Sem dúvidas, o emparelhamento dos estímulos componentes (estimulação sexual e a luz vermelha) com o estímulo aversivo (o choque) faria com que essa composição de estímulos se tornasse aversiva.
No entanto, para a maioria de nós, tal aversão condicionada talvez não seja adquirida através de emparelhamentos diretos desse tipo. Ao invés disso, assim como muitos de nossos valores, ela é provavelmente adquirida através de um análogo verbal ao emparelhamento, por exemplo, outras pessoas comentando o quão inapropriado (imoral, repulsivo) certas fontes de estimulação sexual são. Embora não haja um experimento exatamente igual ao descrito, há algumas relevantes pesquisas experimentais. Em um trabalho com um homem transexual, Barlow et al. (1973) emparelhou choques elétricos com imagens eróticas de homens. Ao final de 20 sessões, tais imagens evocavam excitação mínima e perderam muito de seu valor para reforçar o comportamento de imaginar imagens eróticas de homens.
Em outro relevante experimento, ratos machos foram criados desde o nascimento sem contato com fêmeas. Esses ratos adquiriram o comportamento de montar em seus companheiros do sexo masculino porque esse comportamento produzia estimulação sexual reforçadora. E, quando adultos, eles montavam mais frequentemente em machos do que em fêmeas. Novamente, esses exemplos não são para demonstrar que a maioria dos valores sexuais dos humanos resulta de emparelhamento direto, mas sim para demonstrar que o valor condicionado dos nossos reforçamentos pode resultar de nossa história de aprendizado ao invés de nossa herança biológica.
Outros dados entre espécies também sugerem nossa flexibilidade sexual inata. Os bonobos (chimpanzés pigmeus das florestas equatoriais da África central e ocidental) são vigorosamente bissexuais. Eles parecem ser nossos parentes mais próximos no resto da natureza (de Wall, 1995).
E dados entre culturas sugerem ainda mais nossa flexibilidade sexual inata:
Historicamente, a homossexualidade tem chamado muita atenção e interesse. Atitudes em relação a tal preferência tem variado em diferentes épocas e em diferentes grupos culturais e subculturais, que vão desde a aceitação (como entre os antigos gregos), a moderada tolerância (nos tempos Romanos), à condenação definitiva. Durante tempos modernos, atitudes ambivalentes tem prevalecido. De 76 sociedades estudadas pelo antropólogo americano Clellan Ford e pelo psicobiólogo Frank A. Beach, dois terços delas consideram atividades homossexuais normais e socialmente aceitáveis. Em algumas sociedades, como em Arunta (Aranta) da Austrália Central, homossexualidade é quase universal. Algumas nações, como Grã-Betanha e Alemanha, legalizaram as uniões homossexuais consentidas entre adultos. Um terço das sociedades estudadas por Ford e Beach, incluindo muitos países industrializados, dão pouca ou nenhuma sanção para a homossexualidade, sua prática frequentemente podendo levar à prisão a longo prazo. Em muitos países, no mínimo sua prática pode resultar em perda do emprego, discriminação da habitação local, ser colocado na “lista negra” do governo e ostracismo social (Wolberg, 1994).
Tudo isso sugere que nascemos bissexuais ou até mesmo multissexuais (isto é, suscetíveis ao reforçamento sexual de uma grande variedade de fontes). É apenas através de nossa história comportamental que nos tornamos mais focados em nosso comportamento sexual e nas nossas preferências ou aversões em relação a específicas fontes de estimulação sexual.
Mas é difícil para a maioria das pessoas imaginar que nossos valores são aprendidos porque eles parecem muito naturais, algo com o que nascemos. Isso é porque não estamos cientes da sutil, mas sempre presente programação social nos forçando para os papéis sexuais que adquirimos, assim como não estamos cientes da programação social que nos força a aprender a falar como estrangeiros. E, dado que a grande maioria de nós acaba com repertórios e valores heterossexuais, é difícil pra maioria das pessoas imaginar como uma minoria acaba com repertórios e valores homossexuais ou com repertórios e valores transexuais, assim como é difícil imaginar uma minoria pode aprender a falar espanhol sem um sotaque revelador. Mas poucos argumentariam que essa pessoa bilíngue herdou um espanhol perfeito. Pela mesma lógica, uma visão de mundo behaviorista iria sugerir que não deveríamos argumentar que os repertórios e valores sexuais são herdados.
Outra parte do problema é que as pessoas não parecem compreender o poder da nossa história de aprendizado. Elas pensam que ou nós herdamos nossos valores sexuais ou nós os escolhemos como escolheríamos qual chapéu usar para ir ao mercado. Elas não compreendem um conceito que chamo de fatalismo pré-escolar – muitos de nossos comportamentos e valores que aprendemos antes de certas idades (como por exemplo, na pré-escola) interagem com contingências de reforçamento e de punição de uma forma que se torna quase impossível mudar quando se torna adulto (como por exemplo o sotaque estrangeiro ou comportamento autista e estímulos reforçadores e aversivos ao autista, como o contato com os outros).
Tem havido muitas pesquisas correlacionais pretendendo apontar uma relação entre herança e estrutura biológica e homossexualidade masculina (Ezzell, 1991; Hamer, Hu, Magnuson, Hu, e Pattatucci, 1993; Hu, Pattatucci, Patterson, Li, Fulker, Cherny, Kruglyak, & Hamer, 1995). Mas, outros foram incapazes de replicar alguns destes resultados (Simon, 1996; Watson & Shapiro, 1995). Além disso, é difícil para tal pesquisa de correlação eliminar a possibilidade de confusão ambiental.
Por exemplo, Hamer, et al (1993) afirmam ter demonstrado uma aparente transmissão maternal de orientação sexual masculina baseada numa ligação entre marcadores do DNA no cromossomo X e a orientação sexual. Mas tal correlação não parece excluir a possibilidade igualmente implausível de que o que é herdado é a tendência materna de educar os filhos para serem homossexuais ao invés de que esses filhos herdem a tendência a se tornar homossexuais.
Há problemas semelhantes com os dados correlacionais que mostram "um determinado aglomerado de células na frente do hipotálamo foi, em média, menos da metade tão grande no cérebro dos homens homossexuais quanto nos seus colegas heterossexuais" (Ezzell, 1991, p. 134). Mesmo se essa correlação fosse replicável, não está claro se é a estrutura do cérebro que causou a orientação homossexual (o papel sexual, estilo de comportamento sexual e os valores sexuais) ou vice-versa. Os geneticistas Billings e Beckwith (1993) fazem um argumento similar:
Mesmo que se aceitasse que esses estudos indicam uma correlação biológica com o comportamento humano, isso não significaria que um gene ou uma diferença cerebral é responsável por esse comportamento. LeVay [cujos dados sugerem uma correlação] admite que a diferença observada na estrutura cerebral pode ter se dado devido a atividade homossexual e não ser a causa dela. Técnicas que visualizam a estrutura cerebral, tais como as ressonaâncias magnéticas e tomografia por emissões de positrons, revelam que a experiencia individual, mesmo quando adulto, pode significamente afetar o desenvolvimento cerebral. As emoções, o estresse, os numerosos fatores ambientais podem alterar o metabolismo do cérebro e presumivelmente suas conexões internas. Estudos da genética comportamental humana podem beneficiar a soceidade. Mas até que geneticistas façam mais do que falatório improdutivo quanto aos problemas em seus estudos e quanto as complexas interações entre genes e ambiente, a história irá apenas se repetir (p. 62).
A história a qual Billings e Beckwith se referem é descrita um pouco antes em seu artigo:
Estamos inquietos com o desenfreado entusiasmo com estudos que relacionam os genes com comportamento humano. Argumentos científicos de bases biológicas de diferenças entre humanos já foram utilizados com fins insidiosos; Os argumentos de cientistas alemãs antes da segunda guerra mundial para justificar a “inferioridade genética” dos judeus é apenas um exemplo.
Além disso, grande parte das antigas análises cientificas das origens do ser humano, particularmente usando métodos biológicos, foi desmascarada. No século XIX, por exemplo, “frenologistas” afirmavam poder prever aspectos da personalidade de um indivíduo, como sexualidade, inteligência e tendências criminais meramente examinando a estrutura do crânio. Apesar de sua popularidade, essa “ciência”, que frequentemente incluía explícitas implicações racistas, não era baseada em nenhuma evidência confiável. Mais recentemente, depois de estudos em prisões na década de 1960, os geneticistas chegaram à conclusão de que homens com um cromossomo Y extra eram mais propensos a ser criminosos do que outros homens. Pesquisas de acompanhamento atuais demonstraram que essas reivindicações são injustificadas.
Mas isso é o passado. É sempre possível que o campo da genética do comportamento humano supere sua história de mau gosto. Hoje, quando técnicas sofisticadas podem ser usadas pra analisar o DNA humano, talvez o interesse renovado em conectar os estudos de biologia e comportamento traga o desenvolvimento de uma nova era científica. Por outro lado, talvez não. Um olhar sobre os estudos recentes que buscam uma base genética para a homossexualidade sugere que muitos dos problemas do passado recorreram. Podemos estar em uma nova época de frenologia molecular ao invés de verdadeiro progresso científico e de insights sobre o comportamento (p. 60).
Billings e Beckwith também escreveram, “numa era em que pesquisadores localizaram os genes para condições tais quais a doença de Huntington, fibrose cística, distrofia muscular de Duchenne, alguns cientistas acreditam que o “gene homossexual” logo será encontrado” (p. 60). Esta afirmação parece-me ser um exemplo da influência negativa do modelo médico ou modelo de doença na análise do comportamento. Apesar de, em 1973, a Associação Americana de Psiquiatria finalmente parar oficialmente de classificar a homossexualidade como doença, a tendência persiste, como Billings e Bechwith sugerem, com os pesquisadores classificando a homossexualidade como as doenças de Huntington, fibrose cística e a distrofia muscular de Duchenne. E talvez seja esse modelo médico que façam com que os pesquisadores procurem por um “gene homossexual” ao invés de um “gene heterossexual”. Colocar aspas nas palavras não parece reduzir nossa tendência a coisificar processos comportamentais.
Talvez uma análise mais molecular da sexualidade humana, em oposição a uma análise global restrita da homossexualidade, poderia ilustrar a tolice do modelo médico tradicional, modelo de doença, o modelo de reificação do comportamento humano. Por exemplo, poderíamos procurar uma causa genética para as diferenças individuais na preferência pelo recebimento de estimulação manual, oral, anal ou genital da genitália de um indivíduo? E poderíamos procurar uma causa genética para as diferenças individuais na preferência de um parceiro por fazer estimulação manual, oral, anal ou genital na genitália de um indivíduo? Em outras palavras, a própria busca de uma base genética/biológica para a homossexualidade parece baseada na noção errônea de que a homossexualidade é uma coisa e que essa coisa é uma doença. (Aliás, se tal pesquisa já não parece claramente absurda, talvez irá se você considerar que essas preferências são muitas vezes estabelecida antes de qualquer experiência direta com o recebimento ou prestação de tal estímulo.)
Há um outro problema com a propensão da psicologia a rótulos como autista e autismo, normal, homossexual e homossexualidade, e heterossexual (apesar de ouvirmos bem menos a respeito da heterossexualidade). Esse problema adicional é que a rotulagem desencoraja uma análise molecular de vários componentes do repertório. Se queremos estudar comportamento infantil, nós talvez devessemos parar de usar termos como autista e autismo. Ao invés disso, podemos simplesmente observar as variáveis que controlam vários componentes do repertório e dos valores da criança (por exemplo, a autoestimulação, a autolesão, os escândalos, o controle de estímulos, a linguagem e a imitação), como Lovaas e seus colegas fizeram com tanto sucesso (Lovaas, 1987; McEachin, Smith, & Lovaas, 1993). Da mesma forma, se quisermos estudar o comportamento sexual e os papéis sexuais, poderíamos parar de usar termos como homossexual, heterossexual e homossexualidade. Ao invés disso, podemos simplesmente avaliar as variáveis controlando os vários componentes do comportamento sexual e dos papéis sexuais (por exemplo, formas de estimulação sexual fornecidas e recebidas, fantasias sexuais, formas de andar, falar, trabalhar, se vestir e pensar), como Rekers e Lovaas (1974) e Barlow e seus colegas (1973) fizeram igualmente com sucesso.
Assim como não devemos nos deixar enganar por uma análise molar superficial do comportamento, também não devemos nos deixar enganar por uma análise molar superficial dos estímulos. Por exemplo, LeVay testou a hipótese da correlação da estrutura cerebral com a “orientação sexual direcionada a mulheres (homens heterossexuais e mulheres homossexuais)”, por um lado, e com a “orientação sexual direcionada a homens (homens homossxuais e mulheres heterossexuais)”, por outro lado (Burr, 1993, p. 55). Mas o que nós queremos dizer por orientação do estímulo – por homens ou mulheres? Nos referimos a pessoas com cabelo comprido, barba, brincos, calças, vestidos, peitos largos, peitos pequenos, maquiagem, vozes graves, vozes agudas? Existe tanta variação dentro de uma mesma cultura e mais ainda entre culturas e subculturas nos estímulos visuais e auditivos que constituem homens e mulheres, que esses conceitos visuais e auditivos parecem claramente conceitos culturalmente programados e aprendidos. Não estamos falando sobre a resposta de um peixe macho de cortejar um peixe fêmea que esteja inchada por causa da ovulação (Pelkwijk & Tinbergen’s, 1937, estudo citado por Hinde, 1966). Além disso, não nos ajuda a compreender a questão ao simplesmente definir a orientação dos estímulos nos referindo apenas a genitália. Os comportamentos e valores sexuais frequentemente se tornam bem estabelecidos bem antes do contato ou do conhecimento rudimentar de como é a genitália do sexo oposto.
A magnitude da tolice a que os cientistas podem chegar em suas buscas por causas genéticas de “traços” comportamentais (coisas) é ilustrada pelo psiquiatra Richard Pillard quando faz referência ao estudo em que “dois gemêos idênticos foram separados no nascimento, criados em famílias diferentes e reunidos quando adultos pelos pesquisadores dos estudos com gêmeos de Minnesota. Esses homens acabaram mostrando semelhanças em praticamente todos os aspectos de suas vidas. Eles até descobriram uma propensão em comum de usar roupas de couro durante o sexo e de usar diversos dispositivos para aumentar a estimulação. No entanto, um era gay e o outro heterossexual” (Bower, 1992). Presumivelmente, a referência de Pillard aos estudos de Minnesota era para demonstrar que, apesar de que as variáveis ambientais ocasionalmente possam alterar o “gene homossexual”, o “gene do couro” e o “gene dos vibradores elétricos” eram poderosos demais para serem influenciados pelo ambiente.
Outra pesquisa correlacional sugere uma relação entre comportamento homossexual em carneiros (e também ratos machos) e uma insensibilidade ao hormônio Estradiol (Pennisi, 1994). No entanto, para que isso tenha grande relevância nas preferências sexuais humanas, talvez seja preciso supor que o cheiro do macho e da fêmea tenha tanta importância no comportamento sexual humano quanto ele talvez tenha no comportamento sexual de outras espécies, uma suposição que não estou inclinado a fazer.
Outro problema com essa pesquisa genética é que:
O campo da genética comportamental é repleto de aparentes descobertas que depois acabam sendo colocadas em questão ou retraídas. Ao longo dos últimos anos, vários grupos de pesquisadores relataram ter descoberto genes para diversas doenças mentais – depressão, esquizôfrenia, alcoolismo – apenas para ver essas evidências evaporarem diante de novas evidências ou da re-análise dos dados originais. “Não há quase nenhuma descoberta que seria convincente por si mesma nesse campo”, observa Elliot Gershon, chefe do departamento de Clínica Neurogenética do Instituto Nacional de Saúde Mental. “Nós realmente precisamos ver uma replicação independente” (Pool, 1993, p. 291).
Baron faz um argumento semelhante:
Há lições também de outros estudos - por exemplo, da hipótese de que outro traço comportamental, a doença maníaco-depressiva, é ligada ao cromossomo X. A base para esta hipótese foi inicialmente feita por padrões de segregação consistentes com transmissão ligada ao cromossomo X e relatos de ligação com a região cromossômica Xq27-28. Em alguns estudos, o apoio estatístico destes resultados excederam os níveis de significância relatados por Hamer et al. Além disso, as evidências vindas de estudos de gêmeos e de adoção na busca de um componente genético da doença maníaca-depressiva pareceu mais estimulantes do que na busca por genes da homossexualidade. Infelizmente, a não-replicação pelos pesquisadores dessas descobertas de ligações de cromossomos, assim como a extensão e reavaliação dos dados originais, resultou na diminuição do apoio a essa hipótese. Este resultado ressalta as incertezas encontradas em estudos de correlações de traços comportamentais complexos.
Baron também faz as seguintes considerações:
A afirmação de que a homossexualidade masculina é ligada ao cromossomo Xq228 tem animado o debate do inato versus adquirido na orientação sexual humana. Quando comparada a outros estudos genéticos e epidemiológicos e a complexidade dos estudos de ligação cromossômica em geral, somos obrigados a realizar uma análise mais profunda... Estudos com gêmeos homossexuais são abundantes. Alguns mostram concordância semelhante em gêmeos monozigóticos e dizigóticos, enquanto outros sugerem maior concordância no grupo monozigóticos. A maioria destes resultados são ininterpretáveis por conta dessas pequenas amostras ou por questão não resolvidas no que diz respeito a classificação fenotípica, a seleção dos casos, ao diagnóstico da zigosidade dos gêmeos ou porque fazem a suposição não testada de que os gêmeos monozigóticos e dizigóticos tem experiências ambientais semelhantes, de tal forma que qualquer mudança na concordância entre eles tivesse que ser de origem genética... O apoio à hipotese genética é ainda mais complicado quando se leva em conta considerações culturais e evolutivas. Algumas culturas – por exemplo, os assírios e os greco-romanos – eram muito tolerantes à homossexualidade. O comportamento era praticado abertamente e era altamente prevalente. Padrões sexuais são, até certo ponto, um produto das expectativas da sociedade, mas seria difícil imaginar uma mudança na prevalência de um traço genético apenas em resposta à mudança de normas culturais. Além disso, a partir de uma perspectiva evolucionária, a homossexualidade geneticamente determinada estaria extinta há muito tempo por causa da redução na reprodução. (1993, p. 337)
Para uma crítica mais detalhada a hipótese de herança de preferências e papéis sexuais, consulte Byne (1994).
Portanto, é difícil encerrar a questão. Sem dúvidas a busca pela base biológica das “preferências” sexuais continuará assim como continua para as “tendências criminais”, “inteligência” e “doenças mentais”. E sem dúvidas os resultados dessas buscas serão tão ambíguos que as pessoas poderão concluir aquilo que elas desejarem (isto é, a conclusão que é compatível com suas próprias histórias comportamentais), assim como elas tem feito em todas as outras áreas mencionadas. E é igualmente certeiro que esse tipo de investigação continuará a gerar muita controvérsia.
Uma das razões para o agitamento que o debate entre o inato versus aprendido gera é de que ele tem implicações políticas. Alguns defensores dos direitos dos homossexuais acreditam que a sociedade será mais tolerante se os comportamentos e valores sexuais forem herdados e não “culpa” das pessoas, enquanto alguns defensores pensam justamente o contrário (Shapiro, 1991; Watson & Shapiro, 1995). Minha suspeita é que a homofobia é tão arraigada em nossa cultura que a resolução do debate inato versus adquirido teria pouco impacto na questão de qualquer maneira.
A homofobia é aprendida ou herdada?
Durante sua campanha presidencial e por um curto período após a sua eleição, o presidente Bill Clinton foi tão corajoso, ou talvez tão ingênuo, a ponto de sugerir que os militares devessem tratar as pessoas homossexuais como seres humanos normais e não como criaturas anormais da noite que devessem ser penalizadas, humilhadas e constrangedoramente expulsas do serviço militar. Mas o que me surpreendeu foi a reação forte e negativa por parte dos cidadãos norte- americanos e seus líderes. Por exemplo, o general Colin Powell quase renunciou em protesto (Dumas, 1995). Embora ele seja afroamericano, ele não parecia se importar com o fato de que sua nomeação como presidente do Joint Chiefs of Staff, em 1989, ocorreu apenas alguns anos depois de meio milhão de negros americanos terem servido em unidades militares segregadas na II Guerra Mundial (Knight & Carson, 1995); isso perdurou até que a administração presidencial de Harry Truman declarou que a discriminação e segregação racial estavam banidas do serviço militar. A homofobia é tão poderosa que o paralelo entre a furiosa resistência militar contra a integração racial e a furiosa resistência militar contra a integração entre orientações- sexuais não parece exercer muito controle sobre o comportamento do general Powell. A homofobia era tão poderosa que líderes militares como Powell e membros do congresso forçaram Clinton a implantar a fraca e irracional política do “Não pergunte, não conte” (Dumas, 1995).
(Curiosamente, o argumento de que a homossexualidade e a estimulação sexual vinda do mesmo sexo destrói a eficácia dos militares ignora uma longa história cultural da homossexualidade oficialmente sancionada em forças de combate eficazes. "Soldados gregos foram regularmente acompanhados à batalha por rapazes que serviram como seus parceiros sexuais e companheiros com quem dormiam em troca de ensinamentos nas artes marciais. Tebas, uma das primeiras Cidade-Estado ao norte de Atenas, possuía um batalhão de elite conhecido como o Bando Sagrado, cuja reputação de coragem invencível repousava sobre a unidade e a devoção de seus pares masculinos guerreiros" [Harris, 1989, p. 240]. Harris também cita muitos outros exemplos semelhantes em todo o mundo. Nessas outras culturas onde a estimulação sexual pelo mesmo sexo era ou é comum dentro ou fora das forças armadas, a fonte de estimulação tipicamente não era exclusivamente do mesmo sexo. Em vez disso, era uma questão de conveniência, ou um fase em uma carreira, ou era simultaneamente acessada com a estimulação do sexo oposto.)
A princípio, pensei que General Powell e outros líderes políticos homofóbicos estavam cinicamente participando de um jogo de poder. Ao invés disso, como o desenvolvimento dos eventos demonstrou, parece que eles eram possessores da genuína homofobia que permeia a alma de nossa cultural. Por quê?
Muitos dos que se opõe aos cidadãos homossexuais citam a Bíblia Sagrada (e, é claro, a Bíblia pode ser citada de volta para eles). Mas o que é a Bíblia? Em grande medida, é um impressionante e ilustrado código do comportamento de líderes da nossa cultura, passada e presente, considerado o melhor para o bem estar de nossa sociedade, independente da Bíblia ser a palavra de Deus de milhares de anos atrás ou a palavra de líderes humanos de milhares de anos atrás.
E por que nossos líderes se preocupariam com o comportamento sexual? Nos dias bíblicos e até um passado recente, a taxa de mortalidade infantil era alta. Talvez uma sociedade populosa foi considerado mais o viável, especialmente quando competiam com outras sociedades guerreiras. Além disso, "ao longo da história e pré-história, os modos de produção eram mais recompensadores para aqueles que eram capazes de ter um número elevado de filhos" (Harris, 1989, p. 227). E, mesmo nos tempos modernos, "a sociedade precisa de crianças, mesmo que adultos sexualmente ativos não precisem" (Harris, 1989, p. 233). Então, talvez nossos líderes tenham categorizado e ainda categorizem o comportamento sexual alternativo como tabu ou como imoralidade porque esse comportamento não leva a reprodução, quer esse comportamento proibido seja:
Onanismo: (masturbação e coito interrompido, nome vindo de Onã, filho de Judá [Gênesis 38:9]) (Onanismo, 1994)
Sodomia: {sexo anal ou copulação com animais – nome vindo de Sodoma, da fama da história de Sodoma e Gomorra, as duas cidades destruidas pelo fogo do céu, por causa de sua perversidade carnal não-natural, de acordo com a Bíblia Sagrada; tão pecaminosa era Sodoma, que enquanto fugia da destruição de Sodoma, a esposa de Ló desobedeceu a Deus, olhando para trás, e como castigo foi transformada em uma estátua de sal por causa de seu pecado de voyeurismo} (Somodia, 1994)
Homossexualidade: (“Se também um homem se deitar com outro homem, como se fosse mulher, ambos praticaram uma abominação; eles deverão ser mortos; o seu sangue cairá sobre eles.” "[Bíblia Hebraica. Levítico 20:13]. Nas culturas européias, leis religiosas e seculares contra a homossexualidade começaram na Idade Média, como proibições contra qualquer tipo de atividade sexual que não visasse a procriação.) (Homossexualidade, 1994)
Linguagem pesada. Tradicionalmente, os nossos líderes religiosos e seculares trataram seriamente da prevenção para que rebanho não se afastasse. Mas note que os nossos líderes não tem muito a dizer sobre o comportamento auto- prejudicial, que não seja um lembrente ocasional sobre prejudicar "o templo do teu corpo". Por que não? Por que não há grandes leis religiosas e legais contra arrancar os próprios olhos ou bater a cabeça no chão até sangrar? Certamente esses atos são tão prejudiciais para o indivíduo e para a sociedade quanto as variações sexuais. Imagine uma cultura cheia de pessoas que emitem altas taxas de comportamento auto-prejudicial. Mas isso força a imaginação. Nossos líderes religiosos e legais não passam muito tempo abordando a questão da auto-lesão porque é muito raro, porque apenas algumas pessoas tem o comportamento sob o controle das contingências de reforçamento associados à auto-lesão. (Além disso, a maioria das pessoas que se auto-lesionam seriamente não estão sob o controle de regras religiosas e legais.)
Mas o comportamento de muitas pessoas está sob o controle de contingências de reforçamento associadas aos reforçadores sexuais não reprodutivos. Essas contingências simultâneas de fontes alternativas de reforços sexuais são tão poderosas e tão prontamente disponíveis que elas podem diminuir seriamente o índice de comportamento sexual reprodutivo e, portanto, a taxa de procriação. Logo, poderia não ocorrer a quantia suficiente de prociação. Novamente, isso pode ser a preocupação histórica de nossos líderes. Além disso, Harris (1989) sugere que:
Em reação à expectativa de fracasso reprodutivo generalizado provocado pela mudança da economia agrária para a industrial, empregadores de mão de obra forçaram os legisladores a condenar e punir severamente todas as formas de sexo não-reprodutivo... Como um exemplo flagrante de sexo não- reprodutivo, a homossexualidade tornou-se um dos principais alvos das forças pró-natalista, juntamente com a masturbação, sexo antes do casamento, contracepção e aborto. (pp. 244-245)
Deve-se constatar, no entanto, que a intensa homofobia da cultura ocidental raramente se iguala a de outras culturas que se encontram em contigências materiais similares, que pareceriam exigir da mesma forma um alta taxa de procriação:
Há o caso do homem gay moderno, uma forma de homossexualidade institucionalizada que provavelmente nunca existiu em qualquer lugar exceto na cultura ocidental recente. O que torna os gays únicos é o fato de que a maioria da população heterossexual americana condena as manifestações do comportamento homossexual e até há alguns anos usou o sistema de justiça criminal para punir alguém considerado culpado de até mesmo um único encontro homossexual (Harris, 1989, p. 244).
Atitudes em relação à homossexualidade no mundo ocidental foram determinados em grande parte por códigos morais judaico-cristãos predominantes, que tratam a homossexualidade como imoral ou pecaminosa. Mas, como muitos outros pecados, relações homossexuais eram vistas como expressões da fraqueza inerente a todos os seres humanos, e não como uma doença mental ou como o comportamento de um tipo específico de pessoa. Este último ponto de vista, que considerava a homossexualidade como uma patologia, desenvolvida no final do século 19 (Simon, 1996).
Eis a questão: Se fôssemos biologicamente preparados para achar sexo não reprodutivo aversivo (incluindo a estimulação sexual vinda do mesmo sexo) em vez de reforçador, não haveria necessidade de todas essas sanções religiosas e legais. Mas nós não somos. Em vez disso, parece que estamos biologicamente preparados para achar qualquer fonte não-abrasiva de estimulação sexual reforçadora. Então, se o nosso comportamento sexual deve se restringir ao sexo procriativo, é preciso fazer com que a estimulação sexual de todas as fontes não reprodutivas se torne algo vergonhoso, sujo, desagradável e não natural, ou seja, transformá-las em estímulos aversivos condicionados. E isso é feito através de emparelhamento direto com estímulos aversivos, como a punição física, e mais frequentemente, através de análogos verbais a tais estímulos, como sanções sociais, religiosas e legais faladas ou escritas.
Esses relativamente sutis emparelhamentos e analogias são surpreendentemente efetivos. São tão eficazes que, quando adultos, muitos parecem acreditar que somos biologicamente programados para achar a estimulação sexual por alguém do mesmo sexo algo horrivemente aversivo. O resultado é que essas pessoas não conseguem suportar a ideia de estar no serviço militar com pessoas que não consideram a estimulação sexual homossexual algo aversivo.
Mas as vezes esses emparelhamentos relativamente sutis entre a estimulação sexual homossexual e estímulos aversivos e seus análogos verbais não são realizados de maneira eficaz. Ao invés disso, por causa de pequenas diferenças no histórico de aprendizado, esses emparelhamentos foram sutis demais, então a estimulação sexual vinda do mesmo sexo ainda continua fortemente reforçadora. E em alguns casos, a estimulação sexual heterossexual foram emparelhados com estímulos aversivos, seja diretamente ou através de analogos verbais a esses emparelhamentos e a estimulação sexual vinda do sexo oposto se torna um estímulo aversivo condicionado.
Então, do ponto de vista analítico-comportamental presente (não é a única perspectiva behaviorista possível), herdamos a susceptibilidade para o nosso comportamento ser reforçado pela estimulação sexual a partir de praticamente qualquer fonte, incluindo fontes de pessoas do mesmo sexo e do sexo oposto. É somente através do controle aversivo que essas fontes são restringidas. E as nossas diferentes histórias comportamentais fazem com que diferentes estimulações sexuais, vindas de diferentes fontes, se tornem estímulos aversivos condicionados, alguns de fontes do mesmo sexo, outros de fontes do sexo oposto. E só com intensa intervenção comportamental, que essas aversões podem ser revertidas, mesmo com a participação voluntária (Barlow, Reynolds, & Agras, 1973).
Por fim, deixe-me mencionar outra preocupação político-social: a realidade cultural e material mudou muito desde os tempos bíblicos. Agora temos mais problemas com a superpopulação do que com a queda na natalidade. No entanto, a sociedade continua perseguindo cidadãos transexuais, gays e lésbicas (valores sociais geralmente dolorosamente persistem ao invés de acompanhar a realidade material). Então quem deve mudar – os cidadãos perseguidos ou a obsoleta sociedade perseguidora? Algumas pessoas, preocupadas com o desenvolvimento de uma sociedade mais tolerante, podem argumentar que é melhor lutar ao invés de mudar, que as pessoas com estilos de vida alternativos não devem ceder à intolerância. Defendo que devemos fazer o que for possível para ajudar as pessoas que se encontram com estilos de vida sexuais alternativos (seja ajudá-los a adquirir estilos de vida sexual tradicionais, como Barlow et al. fizeram, ou ajudá-los a resistir à opressão da maioria tradicional), mas, ao mesmo tempo, todos os envolvidos podem trabalhar por uma uma sociedade mais tolerante e compatível com as realidades materiais e sociais dos séculos XX e XIX.
Conclusões
Esta visão de mundo analítico-comportamental salienta a importância da história comportamental e das contingências atuais na compreensão das causas dos comportamentos e valores individuais. Ela argumenta que, embora a nossa história genética seja fundamental na determinação dos processos comportamentais que interagem com a nossa história comportamental e com as contingências atuais, a história genética tem pouco efeito direto sobre diferenças individuais no comportamento e valores entre os seres humanos. As variações culturais em tais comportamentos e valores apoia a importância das causas comportamentais sobre as causas genéticas. Da mesma forma, a necessidade pelo controle social, jurídico e religioso é um argumento contra a causas genéticas. Além disso, esta visão analítico-comportamental de mundo defende a arbitrariedade das formas particulares dos comportamentos envolvidos e a importância das contingências envolvidas na determinação de muitas formas de comportamento humano.
Como um exemplo, esta visão analítico-comportamental de mundo sugere que a nossa herança biológica não tem mais poder sob nossa preferência para as fontes de nossa estimulação sexual do que tem sob nossa preferência para as fontes de nossa estimulação auditiva. Não há nenhum gene que determina se nós preferimos a estimulação sexual vinda do mesmo sexo ou do sexo oposto, assim como não há nenhum gene que determina se nós preferimos preferimos ouvir heavy metal, new wave ou polca – bem, talvez haja um gene para a polca.
* Tradução exclusiva para fins acadêmicos feita por Gedac 2013, consulte o original.
* Título original: UMA VISÃO ANALÍTICO-COMPORTAMENTAL DA SEXUALIDADE: TRANSEXUALIDADE, HOMOSSEXUALIDADE E HETEROSSEXUALIDADE, Richard W Malott - Western Michigan University
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